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sexta-feira, 23 de maio de 2014

X-MEN: DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO (X-Men: Days Of Future Past, EUA, 2014, 131min. Dir. Bryan Singer)

Uma curiosidade:

Em 2014, a Marvel Comics completa 75 anos de publicações.

É interessante observar que na logo comemorativa constam apenas - em silhuetas icônicas - respectivamente, O Homem-Aranha, Capitão América, Hulk e Homem-de-Ferro. Mas é bom que seja assim. Os X-Men, cria de Stan Lee e Jack Kirby e de mais um punhado de visionários, são um grupo de párias, excluídos sob qualquer condição. Mesmo sendo os mais vendidos da editora, mesmo sendo estrelas de sete (!) filmes, numa série que não dá sinais de parada. Comercial e criativamente, nos quadrinhos e agora no cinema, os X-Men são os párias mais cool que eu consigo pensar na cultura pop. Neste fabuloso "X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido", quem recupera esse bem-vindo status é o diretor e artista responsável pela concepção da série nos cinemas desde 2000, Bryan Singer.

Seus primeiros X-Men e X-Men 2 são luminares que conduziram filmes baseados em histórias em quadrinhos de volta ao panteão das grandes produções. Vale lembrar que esses mais Blade de Stephen Norrington e os dois primeiros Homem-Aranha de Sam Raimi, deram o tom que todas as outras obras de gibi seguiram posteriormente. Vale lembrar que esses criadores trabalharam com os personagens da Marvel dentro de grandes estúdios, o que implicava restrições criativas diversas, ainda que não prejudicando o resultado final. No caso dos X-Men, a debandada de Bryan Singer, trocando os mutantes por decisões de carreira equivocadas e a entrada de diretores menores, sem pulso firme e pegada autoral, como Brett Ratner e Gavin Hood, gerou filmes medíocres como X-Men: O Confronto Final e X-Men Origens: Wolverine. A esperança dos fãs da série parecia ir pelo ralo junto com a qualidade da série, que como comprovou Wolverine ano passado, só parecia despencar.

Todo esse preâmbulo apenas para dizer que paralelo à ascensão da Marvel Filmes e seus bilhões faturados com Os Vingadores, Homem de Ferro, Thor e Capitão América, alguma cabeça pensante na FOX deve ter colocado a mão na consciência. E assim como X-Men: Primeira Classe, do brilhante Matthew Vaughn já prenunciava uma volta ao glorioso estilo de Singer, com o próprio produzindo, é com prazer que eu informo a você - que gosta dos X-Men e sabe como é bom o conceito - o quanto essa série é bacana: "X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido" é o filme dos mutantes que eu esperava há mais de dez anos, mais precisamente desde o final de X-Men 2.

Usando com inspiração todo o cânone dos personagens construído na mitologia do cinema, Singer e o roteirista Simon Kinberg trazem ainda a inspiração da HQ Dias de Um Futuro Esquecido, escrita por Chris Claremont e desenhada por John Byrne nos anos 80. Mas tudo é ponto de partida para um desenvolvimento inusitado, original, transgressor de regras e que ao mesmo tempo honra as raízes do comic book. Principalmente, dos primeiros filmes, crias de Singer, mais o Primeira Classe dirigido por Vaughn.

A história é derivativa, mas como toda boa ficção científica, deliciosa, implausível e cheia de possibilidades.

Num futuro dominado pelos Sentinelas, máquinas criadas para localizar e eliminar mutantes, a raça humana está á beira da extinção. Quem sobrou vive em campos de prisioneiros (uma analogia com o primeiro filme da série, os campos de concentração do nazismo), como fugitivo ou escravizado, colaborador de robôs. Aliados nesse futuro possível, Charles Xavier (Patrick Stewart) e Magneto (Ian McKellen) criam um plano para transferir a consciência de um deles para sua versão do passado a fim de impedir um assassinato que selou o destino da humanidade e a construção dos sentinelas pelas mãos do empresário Bolivar Trask (Peter Dinklage). Entretanto, apenas Wolverine (Hugh Jackman, de volta á melhor fase do personagem, uma mescla de Clint Eastwood/ Dirty Harry com os desenhos em movimento de Jim Lee) é capaz de suportar o estresse físico da viagem devido ao seu fator de cura. Assim, Logan se voluntaria para voltar aos anos 70.

E daí em diante começa a diversão. Em pouco mais de duas horas, tantos detalhes, referências pipocam na tela que é melhor listar sem ordem tudo que eu consegui captar numa primeira visita à "Dias de Um Futuro Esquecido":
 * O velocista Mercúrio (o novato Evan Peters, brilhante), no filme apenas intitulado 'Peter', é dono da melhor cena do filme e possivelmente da melhor cena de ação de 2014. E ainda existe uma menção ao garoto ser filho de Magneto. Vamos ver como isso se desenrola nos próximos filmes.
 * Singer entende o personagem Wolverine melhor do que nenhum diretor. Parece protagonista, mas funciona de fato como coadjuvante de luxo, um durão-motherfucker-com-coração-de-ouro indestrutível, ao mesmo tempo em que boa parte da trama é ancorada no carisma dele. Hugh Jackman faz aqui sua melhor representação do personagem desde o segundo filme da série. Vai ser um baita desafio para a Marvel substituir esse cara, e assim como Bond para Sean Connery, o próximo que usar as garras do mutante canadense vai sofrer inevitavelmente com a comparação.
 * Jennifer Lawrence como Mística prova que mesmo a maquiagem mais pesada não é capaz de esconder a... Exuberância e o... Talento desta jovem atriz. E tenho dito.  
 * O sabor de Além da Imaginação, de toda a ficção científica de boa cepa desenvolvida por gênios como Irwin Allen e Gene Rodenberry, está aqui. Inclusive uma referência ao seriado Star Trek original. Singer é trekkie fanático, e sabe que boa Sci-fi se faz com idéias, e não com CGI.
 * Longe de ser spoiler, mas que final, que clímax absurdo de bom. A costura das duas linhas temporais, a ação incessante e a conclusão da trama deixa qualquer fã salivando pelo que virá a seguir.
 * A constatação de que X-Men foi, é, e sempre será sobre a dicotomia Charles Xavier/Magneto. São duas visões que entendem de maneira diferente o mundo que os rodeia e os rejeita. Por mais que a trama dê voltas, e tente encontrar antagonistas, o cerne do universo dos mutantes é essa disputa ideológica que sempre extrapola a diplomacia e tem consequências desastrosas.
  *A trilha sonora com a fanfarra clássica da série, composta por John Ottman, responsável também  pela montagem preciosa e a ambientação nos anos 70, influência declarada no cinema de Singer. Tudo funciona.

 Mais detalhes virão numa revisão atenta, mas o que dá para dizer agora é que se você ficou feliz com a surpresa que foi o primeiro filme da série, se gostou mais ainda do segundo, detestou a lambança cometida por Ratner no terceiro filme, assim como esses terríveis filmes solo do Wolverine...  E no fim das contas, viu luz no fim do túnel com X-Men: Primeira Classe... Então eu te digo que "Dias de um Futuro Esquecido" é a melhor versão dos mutantes na tela grande até agora. Não é apenas um grande filme ou adaptação boa dos quadrinhos, mas um passo necessário para colocar de volta aos trilhos uma franquia que parecia desconjuntada, agora num único universo coerente e funcional, cheio de possibilidades.

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