Powered By Blogger

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Submarine (Submarine, UK, 2011, 86 min.)

   Mas que espetáculo esse Submarine, filme inglês que marca a estréia na direção de longas de Richard Ayoade, mais conhecido por dirigir os clipes da banda Arctic Monkeys. Aqui ele adapta o romance de Joe Dunthorne sobre um garoto em plena adolescência lidando com a perda da virgindade, a primeira namorada e a crise no casamento dos pais. Temas já discutidos em milhares de outros filmes, mas que aqui ganham novo fôlego graças à genialidade de Ayoade, mostrando um talento genuíno de cineasta promissor à não se perder de vista.

  Fazia tempo que eu não via um par romântico com tanta química nas telas: Craig Roberts e Yasmin Paige formam um par daqueles para entrar na história, um casalzinho disfuncional impossível de não gostar; ele inseguro, muito sério em suas intenções, com alma de poeta. Já ela é uma garota meio blasé, pouco romântica e insegura em relação à sobrevivência da mãe, que está internada no hospital, com um câncer terminal. Já o menino sofre diante de uma possível traição da mãe que pode colocar em risco o futuro da família.

  Esses dois jovens com seus respectivos lares em perigo fornecem o combustível para uma história de amor das mais atípicas que eu já vi. Triste sim, mas muito honesta na medida em que os personagens se revelam pessoas de verdade como eu e você, e não robôs repetindo falas e obedecendo à reviravoltas dramáticas canalhas. Quando assistimos Oliver (Roberts) à beira do mar, descrevendo como se sente minúsculo diante da avalanche de problemas que soterraram seus sonhos, dá para sentir a tristeza real, aquela que faz a gente querer fugir de tudo, fechar os olhos e fingir que o mundo acabou. Por mais imaturo que isso pareça, é uma descrição sem afetação do imaginário de uma criança que cresceu, e agora se vê diante de uma nova gama de problemas e possibilidades.

  Toda essa complexidade emocional sugerida pelo roteiro não seria tão eficiente não fosse a direção espetacular de Richard Ayoade. Emulando aqui e ali seus diretores favoritos como Wes Anderson, Scorsese e Hal Ashby, ele consegue um feito admirável: movimenta a narrativa com mão de veterano ao mesmo tempo que não renega seu passado de esteta e nos brinda com algumas das imagens mais lindas do cinema recente. Todas, vale a pena ressaltar, com extremo bom gosto e principalmente, à serviço da história, e não como mera muleta estética. Seu uso das cores vermelho e azul para destacar paixão e tristeza é exemplar e sutil, assim como as canções escritas e interpretadas por Alex Turner, líder do Arctic Monkeys, encaixaram-se à perfeição com o espírito melancólico da obra.

  Obra que vale ressaltar, tem no seu cerne o elogio a família, instituição que os adultos muitas vezes negam as crianças a si mesmos. Quando Oliver é convidado para jantar na casa de Jordana, a namorada, e os pais da garota o elogiam, mesmo enfrentando o câncer terrível da esposa e um clima pesado demais, o pai dela fala para o rapaz:
"-Obrigado do fundo do meu coração, por olhar pela minha Jordana, por atravessar o fogo com ela. Agora você é parte da família, certo? Parte da família, entendeu? certo?"

 E no fim das contas, quem não quer fazer parte de uma família, por mais estranha e incomum que seja? Grande filme.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário