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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Viver e Morrer em Los Angeles (To Live and Die in L.A., EUA, 1985, 117 min.)

   Hoje é a data de estréia nos cinemas americanos daquele que possivelmente se tornará o grande filme do ano para amantes dos filmes de ação mezzo Pulpy/ Noir: Drive, de Nicolas Winding Refn. E esse blog divulga a crítica do segundo filme que faz parte do  pequeno ciclo de obras que serviram como fonte de inspiração para o diretor Refn na realização de seu novo trabalho.

  'Viver e Morrer em Los Angeles' é um filme policial que conta uma história muito simples: um detetive de Los Angeles (William Petersen, que trabalhou com Michael Mann em Manhunter e posteriormente se tornou astro da série de TV C.S.I.) sai à caça de um sociopata falsificador de notas, interpretado com verve pelo grande Willem Dafoe.

  Tomando partido desse argumento batido, William Friedkin faz aqui seu melhor filme desde  'Sorcerer-Comboio do Medo', refilmagem de 'O Salário do Medo' que Clouzot realizara em 1953 e Friedkin refilmara com Roy Scheider em 1977. Friedkin é diretor com mão pesada, que se encaixa perfeitamente em projetos como os seminais Operação França e O Exorcista. É uma questão de gosto pelo lado escuro da natureza humana, um modo de ver o mundo que para um filme como esse 'Viver e Morrer em L.A.' caiu de maneira perfeita.

  A Los Angeles retratada pelo filme é a dos becos-sem-saída, dos ferro-velhos: suja, feia, perigosa. Acompanhamos a descida ao inferno do detetive ao mesmo tempo em que Friedkin faz a tradução visual da decadência moral descrita no roteiro. É um mundo de traidores: informantes, traficantes, policiais. Ninguém sai ileso, mas ao mesmo há um senso de beleza meio esquisito que nos lembra: estamos em 1985. Isso aqui ainda é antes de Tarantino, antes do ultra-realismo de Paul Greengrass. Há uma influência forte de Miami Vice, e por extensão, o nome recorrente ao cinema policial da época: Michael Mann. É uma busca pelo realismo que se traduz mais no modus operandi de mocinhos e bandidos (Friedkin declara nos extras do dvd que trabalhou com vários consultores policiais para dar verossimilhança à linguagem e ações dos personagens, coisa inédita para a época) do que no aspecto plástico do filme, coloridíssimo e pontuado por canções típicas da época, emulando os sintetizadores de Giorgio Moroder ou a própria trilha sonora de Thief composta pelo grupo Tangerine Dream.

  Friedkin ficou famoso pela sua perseguição de carros em Operação França e aqui ele retoma essa regra obrigatória que faz parte do cânone das produções policiais americanas. Por dez minutos, acompanhamos, quase sem diálogos, um longo exercício de estilo, onde a câmera do diretor não mede esforços para nos inserir no meio de uma frenética corrida de carros. Merece entrar para a lista das grandes cenas de ação já filmadas. Contando na época apenas com logística e uma vontade feroz de realizar uma sequência das mais ousadas já concebidas, Friedkin e seus colaboradores interditaram várias ruas de Los Angeles. Rodaram, durante o dia, talvez a maior perseguição de carros realizada nos anos 80. É uma marca registrada do diretor que aqui se adequou perfeitamente ao material. Ele ainda tentaria uma cena parecida, mas dessa vez com resultados desastrosos, no péssimo filme' Jade', fita de 94 com David Caruso e Linda Fiorentino.

  Curioso observar que 'Viver e Morrer em L.A.' não é mesmo o tipo de filme sobrevivente ao teste do tempo. Pelo contrário. Seu charme reside justamente em sua inadequação, em como ficou congelado em seu retrato de uma época de exageros e imperfeições. Mas são justamente essas imperfeições que fazem do filme tão esquisito e interessante, quase um alienígena ao meio das produções realizadas na época. É a marca do diretor William Friedkin, que mesmo irregular, sempre faz de seus filmes experiências memoráveis. Felizmente, esse filme é mais um exemplar do seu virtuosismo na direção de fitas policiais.


(No terceiro e último filme do ciclo, comentarei o filme 'Driver', produção de 1978, dirigido por Walter Hill, com Ryan O'Neal, Bruce Dern e Isabelle Adjani.)

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