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domingo, 18 de setembro de 2011

The Driver (The Driver, EUA, 1978, 91 min.)

  E eis que o ciclo de filmes policiais anos 70/ começo dos 80 chega ao final com 'Driver', fita de 1978 que traz a direção do expert no gênero Walter Hill e é estrelada por Bruce Dern (no auge da loucura), a então novata (e linda) Isabelle Adjani, e Ryan O'Neal, galã de 'Love Story' e ' Barry Lyndon', fazendo aqui o papel-título, emulando os maneirismos de Steve McQueen, que não aceitou fazer o filme por achá-lo muito parecido com seu triunfal 'Bullitt', filmaço que revolucionou o cinema de ação em 1968, trazendo o astro fazendo suas próprias cenas de ação, dispensando dublês numa sequência rodada nas ladeiras de San Francisco dirigindo um Mustang GT 390 Fastback em manobras ousadas até para dublês veteranos.

  Mas 'Bullitt' fica para outro dia. 'Driver', um misto de faroeste moderno com perseguições insanas de carro, conta a história do personagem título, cujo nome nunca é revelado. Sua especialidade é dirigir carros em fuga para assaltantes. Seu método é minimalista, assim como seu discurso: ele simplesmente age, e esse ação é completamente descritiva. Um fora da lei que só existe em celulóide, esse 'driver' é antes de mais nada filhote de McQueen, Charles Bronson e principalmente Alain Delon em 'O Samurai', de Melville. Sua existência é definida puramente pelas missões que recebe, e essa presença taciturna faz o charme da fita. Numa época de pretensos machões, chorões que falam muito e fazem pouco, um protagonista silencioso diz muito sobre como o herói de ação era encarado há 20, 30 anos atrás. Ryan O'Neal não é um grande astro, não possui carisma, e isso colabora mais ainda com o distanciamento emocional necessário para não nos identificarmos ou torcermos pelo personagem.

  Carisma para dar e vender tem Bruce Dern, interpretando 'o detetive', policial esculachado e cheio de frases prontas que toma a perseguição contra o 'driver' de maneira pessoal. Quando Dern aparece em cena, é sempre um barato vê-lo doidão, vomitando regras furadas, discursos vazios e proferindo ameaças. Na obsessão de capturar o anti-herói, contrata uma gangue de assaltantes e os obriga à contratar o motorista para um assalto, que monitorado pela polícia pode resultar na captura que tanto deseja. É claro que as coisas se complicam, envolvendo Isabelle Adjani como uma suposta testemunha de uma das fugas espetaculares do motorista e várias reviravoltas e cenas inacreditáveis de perseguição policial.

  Curioso como esse filme simplesmente passou por baixo do radar de colecionadores e apreciadores do gênero. De fato não é uma fita que busca originalidade, mas Walter Hill, que foi colaborador de Peckinpah e dirigiu clássicos como 'Lutador de Rua' e '48 Horas' entende de ação como poucos. Sabe ser minimalista na condução do roteiro sem perder a levada acelerada do filme, e mantém o interesse tanto em cenas movimentadas (muito bem conduzidas numa Los Angeles sempre notívaga) quanto em cenas íntimas, de interiores, onde a sordidez dos ambientes como hotéis baratos, botecos e ruas mal-iluminadas contrastam muito bem com a ambigüidade dos personagens. Destaque ainda para duas cenas de perseguição automobilística que merecem figurar entre as melhores já realizadas até hoje.

   Encerro aqui esse pequeno ciclo que revisou de maneira modesta três filmes americanos um pouco mais obscuros que, cada um à sua maneira, ajudaram a definir o cinema policial de ação adulto. Realizados por grandes diretores, são o lembrete de que o feeling e a compreensão dos símbolos e, porque não dizer, 'clichês', funcionam muito mais do que um grande orçamento e astros fabricados. Alguns diretores contemporâneos como Tarantino e Nicolas Winding Refn parecem ter herdado essa sensibilidade. Outros como Fincher e Nolan parecem retrabalhar essa iconografia e apresentá-la em novos contextos, em filmes como 'Seven' ou 'Insônia', respectivamente. Não importa. O grande barato da pesquisa e análise dos filmes  é justamente a habilidade minha e sua, que está lendo isso, de processar essas referências, encontrar pontos de intersecção nas idéias e abordagens desses grandes autores e, com o tempo, desenvolver uma nova maneira de apreciar filmes que numa primeira projeção parecem banais na superfície, mas que tem muito a oferecer. Basta olhar com um pouco mais de atenção.

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