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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O Lado Bom da Vida ( Silver Linings Playbook, EUA, 2012, 121min. Dir. David. O. Russell)

  Interessante assistir o novo filme do diretor Russell e constatar que ele aprofunda a abordagem familiar realizada desde The Fighter, aquele com Wahlberg, Christian Bale como um junkie de crack (papel que lhe rendeu Oscar) e mais uma família maluca de irlandeses na América. Tudo aquilo era muito bem encenado, exalava vida, tinha muito coração, acima da média. O cinema americano carece desse tipo de estudo de personagem que temos aqui nesse O Lado Bom da Vida, um filme que apesar das indicações para prêmios e as discussões sobre ser subestimado ou superestimado, felizmente vai passar no teste do tempo e quem sabe vai se tornar um pequeno clássico americano.
  O rapaz bipolar e esquizofrênico que no passado perdeu mulher devido a uma traição e um desenlace trágico (não vou estragar as surpresas) volta para casa após um tempo internado e encontra carinho nos laços familiares e de amizade. A mãe passiva e amorosa. O pai fanático por futebol americano, impulsivo e maníaco como o filho. O amigo à beira de um ataque de nervos num casamento fora dos eixos.
 E a adorável garota bipolar também, com um passado tenebroso, de volta ao lar dos pais para tentar reconstruir, ou não construir mais nada errado após um grande fracasso amoroso. Pat e Tiffany são um desses casais 20 tortos que o cinema americano vira e mexe nos presenteia, um deleite de ver a comparação de diferenças, de cicatrizes, a química certeira. Bradley Cooper e Jennifer Lawrence estão perfeitos, críveis em suas fragilidades e ao mesmo tempo exalando carisma de estrela que ambos tem de sobra.
  E que surpresa é ver De Niro finalmente desligando o piloto automático e entregando uma atuação cheia de emoção, como nos tempos de Scorsese. Como o pai errante, bookmaker, que só quer fazer e ver o bem do filho, ele grita, chora, briga e tem seu grande papel desde Cassino, em 95. Vale mencionar a grande atriz australiana Jackie Weaver, de Animal Kingdom, aqui como a mãe carinhosa e que fica entre o pai e filho sem saber bem qual rumo tomar.
  Francamente, todo o elenco de apoio, o psicólogo, o melhor amigo, o policial, o amigo do pai também apostador e fanático por jogo, o irmão...agora não me vem os nomes, mas toda essa gente misturada á esses quatro que eu citei formam um elenco afinado e bem dirigido como há muito tempo eu não via. Essa habilidade do diretor em puxar 'verdade' do seu elenco é o triunfo desse filme. Tudo é muito pessoal, muito honesto. Apesar de lá pelas tantas tudo precisar ser amarrado (e aí entra a convenção que nos lembra que estamos em um filme comercial e blábláblá), não chega a afetar o conjunto e revela em Russell uma habilidade insuspeita de canalizar um Frank Capra na direção, coisa rara nos dias de hoje.
  Um mal intencionado poderia ver nessa fita um amontoado de clichês, mas fiquem atentos: aqui temos uma obra de cara limpa, carinhosa e honesta com seus personagens, sem o cinismo que impregna dez entre dez fitas dramáticas ou românticas que assistimos hoje em dia. Esse é um filme cujas habilidades do diretor e elenco só encontram par no cinema americano dos anos 70. Não é pouco.

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