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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Último Desafio (The Last Stand, Dir. Jee-Woon Kim, EUA, 2013, 107 min.)

   Arnold Schwarzenegger é um ícone que tentou o impossível: ser herói dentro e fora das telas. Foi ator, político, bodybuilder, imigrante bem sucedido na América. Foi tudo isso ao mesmo tempo, mas agora seu maior inimigo, todo mundo sabe, é a velhice.

Mas como o austríaco sempre foi rei em se autopromover, o veículo para seu 'comeback', esse 'O Último Desafio', foi alardeado como um retorno ao cinema á maneira de Clint Eastwood nos anos 80: um astro de ação envelhecendo com sabedoria, consciente de suas habilidades físicas já limitadas, mas com uma ironia e visão de mundo renovadas, experiente e maduro. Um lobo velho em pele de cordeiro.

Não deu certo. O filme foi universalmente rejeitado, o maior embaraço na carreira do astro. Custou 30 milhões e até agora não rendeu nem 15. Em outros tempos, 15 milhões seria a renda do primeiro dia de um filme de Schwarzenegger.

O revés de bilheteria é até compreensível  pela campanha completamente errada do estúdio, que promoveu o filme com Arnold dividindo posters com Johnny Knoxville, o eterno 'Jackass', que poderia afastar uma boa parcela do público. Knoxville é veneno de bilheterias, e pior, não aparece no filme em mais de três cenas. Ainda por cima foi lançado em janeiro, época em que os cinemas ainda estão ocupados com os concorrentes do Oscar ou produções B de terror sem datas melhores para serem escoadas. Fosse lançado no final das férias lá nos EUA e aqui, como Stallone fez com sua cinessérie Os Mercenários, a fita poderia muito bem encontrar seu público.

Mas quanto ao filme, a rejeição é meio como bater em gato morto . Apesar de não se juntar ao núcleo duro de filmes de Arnold ( Exterminador do Futuro, Predador, Conan, True Lies), O Último Desafio é uma fita decentíssima de ação, muito melhor que a média do gênero nos últimos tempos. É dirigido por Jee- Woon Kim, o coreano malucão que fez os cults de nascença A Bittersweet Life, I Saw the Devil e The Good The Bad and The Weird. Felizmente, Jee-Woon entende as convenções necessárias num filme de Schwarzenegger e segue a fórmula de maneira estoica, adicionando aqui e ali bem vindos insights, dando uma cara mais moderna ao pacote todo.

Schwarzenegger envelheceu, óbvio, mas continua o mesmo, boa-praça e durão. Ainda tem presença icônica na tela, dispara grandes frases de efeito e de todos os heróis dos anos 80, é o que melhor sabe extrair humor de sua persona. Ele sabe que não é levado á sério e toma proveito disso, como sempre fez. Mas talvez seja pedir demais ao público moderno de multiplex entender quem é esse cara. Infelizmente seu público-alvo não entende a sutileza de Arnold estar se tornando um tipo Clint Eastwood, e o próprio ator, convenhamos, não tem o mesmo calibre de Clint para executar essa manobra, o que pode soar para alguns como pretensão demasiada.

A história é batida, mas funciona: Um criminoso audacioso (Eduardo Noriega, ator de Amenábar aqui se esbaldando na canastrice, como deve ser) engata uma fuga espetacular rumo á fronteira do México, e vai passar com seu Cartel a toda velocidade pela pequena cidade de Summertown Junction, onde vai enfrentar a resistência de um xerife experiente, Ray Owens (Schwarza) e seu pequeno staff, composto por um ex-herói de guerra (Rodrigo Santoro), dois oficiais inexperientes sedentos por ação (Jaimie Alexander e Zach Gilford), o alívio cômico inevitável (Johnny Knoxville quase estragando o filme) e Luís Guzmán, que faz o papel de.... Luís Guzmán, e se sai perfeitamente bem com isso.

Não sobra muito a dizer além de que as cenas de ação são de primeira, o filme tem ritmo e um final triunfal, digno de Schwarzenegger. Foi meio triste ver a sala quase vazia, porque nos tempos de Exterminador do Futuro 2 e True Lies, lembro bem dos cinemas de rua lotados e o público empolgado. Infelizmente em alguns casos as coisas mudam e não podemos fazer muito. Fiquei até o final da projeção, sozinho na sala, como tributo ao último grande herói de ação que me concedeu matinês tão saudosas, cheias de ação e aventura. Melhor sorte na próxima, Schwarza! Afinal, ele mesmo disse que sempre vai voltar.

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