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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Encontros e Desencontros (Lost In Translation, EUA/JAP, 2003)

            Acabo de assistir pela milionésima vez Encontros e Desencontros. Me pegou completamente desprevenido, estava zapeando nos canais da Tv a cabo e tem filmes que simplesmente não abandonam você. Tem filmes em que você tem que acreditar, eles existem.

     Olha que comédia romântica nunca foi meu gênero de filme favorito, mas essa não é, nem de longe, uma comédia (apesar de ter momentos hilários e o Melhor Ator/Comediante do Planeta, Bill Murray, na atuação que definiu sua carreira), e nem mesmo pode ser considerado um romance daqueles que seguem a cartilha "casal se junta/ se separa/ se junta novamente". Encontros e Desencontros é um daqueles filmes que destroem nosso coração ao final sem a menor cerimônia, tudo isso de maneira muito sutil e realista. Sofia Coppola é uma diretora iluminada que conseguiu capturar os detalhes de um relacionamento em que na verdade nada acontece e tudo acontece ao mesmo tempo.
     
Explico. Quando Bob Harris (Murray), ator decadente de filmes de ação chega à Tokyo para a gravação de um comercial de uísque, está tão desnorteado que a bagunça do fuso horário é o menor de seus problemas: sua vida perdeu a emoção, sua mulher liga o tempo todo dos EUA para lhe contar banalidades e seus filhos perderam a conexão com ele devido à vida mambembe de astro de cinema. Harris aceita essa estadia no Japão como uma fuga dos seus problemas e uma fuga dele próprio, um esboço do homem de outrora. Já Charlotte (Scarlett Johansson, maravilha), encontra-se no mesmo beco sem saída de Harris, mas com outras variáveis: está com 25 anos, tem uma vida toda pela frente, um casamento vazio com um fotógrafo igualmente vazio, e não sabe que caminho seguir. Acompanhando o marido que vai fazer uma sessão de fotos, Charlotte também pretende usar o hotel e a cidade de Tokyo como espaço existencial para a abraçar a melancolia de uma vida cheia de opções, mas que não se completa pela falta de amor real, aquele que faz a gente ficar com as mãos geladas e coisa e tal, sabe como é.

E aí, num momento mágico que somente os filmes podem proporcionar, esses dois mundos tão distantes e tão próximos colidem e o que surge é a mais intensa história de amor que o cinema proporcionou nos últimos anos. Bob e Charlotte se reconhecem imediatamente numa terra completamente estrangeira, e isso fortalece o relacionamento dos dois. Ao mesmo tempo, a diferença de idade e o fato de ambos serem casados faz com que o desejo reprimido exploda em pequenos gestos durante todo o filme. E fica claro que eles são sim o par perfeito, que cruzaram meio mundo para se encontrar, mas no momento errado. E é essa melancolia que atravessa o filme, auxiliado por uma trilha matadora e a paisagem de Tokyo, cosmopolita e solitária ao mesmo tempo.

Todo mundo já passou por isso. Encontrar aquela pessoa que você mataria para estar ao lado a qualquer hora. A melhor companhia do mundo, o momento em que aquela busca pela perfeição acabou: o que você quer está ali, ao seu alcance, a centímetros, milímetros de distância. Mas que beleza se fosse simples assim. Esses são os problemas que não se resolvem como nos filmes. Estamos presos a uma existência cheia de cirscunstâncias que nunca nos deixam ser ou ir atrás do que realmente queremos, e ficamos adultos e descobrimos que isso é verdade. É essa descoberta da impossibilidade que faz os personagens de Encontros e Desencontros parecerem tão reais, tão críveis no seu apego ao agora. Pois o amanhã não existe para eles, nem o ontem.

E quer definição melhor de amor do que essa? O Agora, perfeito em sua clareza e em suas promessas. Esse escriba que vos fala não acredita em amor eterno. Amor real é o agora, o momento perfeito, a polaróide instantânea que registra uma imagem, uma frase, um gesto que vai durar, isso sim, para sempre. A memória dura para sempre, não o amor. Então, Bob e Charlotte se entregam ao agora e passam noites muito agradáveis juntos, pressentindo que aquilo é um presente do destino. E que tudo acaba.

Mas de vez em quando, uma vez só, é possível esticar esse momento um pouco mais. Uma noite a mais, um dia a mais, um almoço a mais, apenas mais uma vez. Não vou, óbvio, entregar o final do filme, mas isso eu digo: o final de Encontros e Desencontros consegue uma proeza inacreditável: ele se acomoda à visão de mundo do espectador. Sofia Coppola teve a coragem de ao final perguntar: Em que tipo de amor acreditamos? É possível continuar? Existe esperança? Há luz ao fim do túnel? Ou só existe o gosto amargo do adeus na manhã seguinte? Isso vai de cada um.

Eu...ainda acredito.

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