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terça-feira, 24 de maio de 2011

Quem é David Fincher?

      Fincher é provavelmente o melhor diretor americano em atividade. Digo isso sem medo de ofender Wes Anderson, Tarantino, Scorsese, P.T.Anderson ou até mesmo os Irmãos Coen. O que diferencia ele dos outros é que o auge de Fincher na direção já se estende por mais de uma década, e o cara não dá sinais de que vai parar. Não se prende a um estilo de direção, sempre muda de acordo com o que o projeto exige e tem um domínio da narrativa que quase ninguém mais possui hoje em dia. O grande barato de Fincher é que ele consegue ser autoral dentro do esquemão hollywoodiano e ao mesmo tempo atinge as grandes massas através de projetos sempre escolhidos com um timing fenomenal.

   Desde o início trepidante em Alien 3 (1992), em que teve o filme tomado pelo estúdio e não participou da montagem original, ele nunca mais cedeu à pressões de estúdio ou fez um filme menor que o seu talento. Em 95 redefiniu as regras dos filmes de serial killer com a obra-prima Seven- Os Sete Crimes Capitais, e meio mundo se curvou ao seu talento subversivo, às suas tomadas meticulosamente planejadas; ao teor anárquico do filme em si. Vidas em Jogo, outra pérola do suspense com Michael Douglas lançada em 1997 e pouco celebrada aqui no Brasil, mostrou Fincher ampliando seu escopo técnico enquanto burilava um roteiro que nas mãos de outro diretor poderia resultar num desastre.

  Mas em 1999 um filme mudaria a vida de cinéfilos por todo o mundo. Clube da Luta revolucionou o cinema moderno e influenciou, para o bem ou para o mal, toda uma geração de cineastas/revolucionários/agitadores culturais por todo o mundo. Contando uma história sobre alienação, comodismo,egoísmo e a falta de rumos do jovem moderno, Fincher colocou um espelho na cara de muita gente (inclusive este que vos fala) que sente a vida incompleta, mas ao mesmo tempo luta contra a própria preguiça e o ego , sem conseguir mudar nada efetivamente. O filme foi um fracasso comercial, e ao longo da década foi redescoberto e alçado ao nível de cult mundial. Brad Pitt encontrou seu personagem definitivo na pele de Tyler Durden, um revolucionário que prega a auto-destruição como única maneira de se livrar da claustrofobia do mundo moderno cheio de regras e do tão falado politicamente correto que rege a sociedade.

     2002 foi a vez de O Quarto do Pânico, filme menor na filmografia do cineasta que apesar de ser tecnicamente perfeito apenas serviu para Fincher testar novos movimentos de câmera e exercitar seus músculos num thriller meio Hitchcock com cara de SuperCine. Foi grande sucesso, comprovando que o público nem sempre está interessado em elucubrações psicológicas e ultraviolência como havia explorado em sua obra anterior.

    Zodíaco, lançado em 2007 e baseado na história real do serial killer que aterrorizou os EUA nos anos 70 traiu a expectativa do público e criou um policial totalmente fora dos padrões do gênero. Zodíaco é lento e arrastado de propósito, cansando o público à medida que seus personagens também se esgotam, e a busca pelo assassino se torna menos importante do que o estudo dos limites da obsessão apoiado por atores sensacionais como Robert Downey Jr.. Não foi bem em bilheteria, mas marcou a volta de Fincher ao seu estilo ousado de outrora.

    Na adaptação do conto de F. Scott Fitzgerald, O Curioso Caso de Benjamim Button, lançado em 2008 e com Brad Pitt no papel principal, Fincher mostrou sua habilidade novamente em dirigir um filme que aparentemente era fora do seu estilo seco habitual, mas com grande capacidade em administrar os efeitos especiais sensacionais e o drama de um homem que nasceu velho e vai rejuvenescendo progressivamente ao longo de sua vida. Tratado como uma metáfora sobre a busca constante pelo amor e pela vida, Benjamim Button foi o maior sucesso da carreira dele, ancorando indicações ao Oscar e unanimidade de crítica e público.

    O que nos leva ao seu fenomenal A Rede Social, filme que relata a criação do Facebook e também é uma biografia dos anos em Harvard de Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin, amigos, co-criadores e futuros rivais  que disputam a posse da empresa multimilionária. Ao mesmo tempo em que é fiel ao livro escrito por Ben Mezrich, Fincher deixa a sua marca fazendo aqui e ali sutis comentários sobre o rumo desumano que os universitários e os jovens em geral estão tomando apenas em nome da competitividade em um mercado de trabalho que os vê como peças dispensáveis. A insegurança e inadequação são sentimentos discutidos durante o filme de maneira eficaz, com Fincher retomando aqui muito do vigor narrativo de Clube da Luta e olhando com ironia para uma geração que se acha bacana, mas fracassa em se relacionar com o próximo de maneira satisfatória. Grande filme que merece ser revisto.

   No momento Fincher está concluindo o remake do sucesso sueco Os Homens que Não Amavam as Mulheres, filme de suspense com elementos que podem levar o diretor a retomar o fio narrativo de obras como Seven e Zodíaco. Ou simplesmente ele vai  jogar o manual de convenções fora e mais uma vez subverter um estilo que ele próprio ajudou a forjar.

   Fico no aguardo da próxima obra deste diretor muito interessante e que merece ter todos os seus filmes descobertos e comentados em retrospectiva. Afinal, já fazem mais de quinze anos em que entrei no cinema para assistir Seven pensando se tratar de um filme de parceria policial tipo Máquina Mortífera e ganhei um épico criminal que me assombra e acompanha pelo resto da vida. É esse o tipo de impacto que David Fincher busca : dar uma experiência definitiva para o espectador, e deixar as conclusões para o lado de fora do cinema, como todo bom filme deve fazer.

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