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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Duro de Matar 4 (Live Free or Die Hard, dir. Len Wiseman, EUA, 2007, 124 min.)

Quase doze anos após o terceiro, Duro de Matar 4 viria para estragar o legado da série. Apesar de sucesso de bilheteria e curiosamente de crítica, qualquer fã da série sabe apontar que esse é um filme com um objetivo claro: faturar em cima da franquia com uma obra burocrática ainda que decente, em que todas as características reconhecíveis da série foram apagadas em favor de 'reimaginar para uma nova geração' (como eu odeio isso) um 'novo conceito' (odeio mais ainda isso) sobre Duro de Matar.

 O triste é pensar PORQUE um estúdio como a Fox desrespeitou tanto as convenções da série e COMO Bruce Willis topou uma roubada dessa. Mas enfim. Vamos aos detalhes sangrentos.

No interim entre Duro de Matar - A Vingança e este Duro de Matar 4 o mundo mudou bastante. Principalmente as comunicações, notadamente a internet, e os sistemas de segurança após o 11 de Setembro. Jamais McClane teria de correr a um telefone público, ou terrorismo seria a desculpa para um grande roubo. Em certo momento é dito a McClane: "Você é um relógio Timex numa era digital.", e isso é verdade. Ainda assim é uma metáfora idiota, já que a Timex faz relógios digitais há décadas. Mas um sentimento é válido: teria McClane se tornado uma relíquia? Essa questão jamais é respondida porque o filme é fraco, Willis está claramente no piloto automático e graças a uma censura mais branda, toda a violência, o humor negro e a ousadia de Duro de Matar se foram em troca de um filminho de ação coalhado de CGI e seguro para a família toda se divertir. Yippee Kay Yay!

 Desta vez, o policial precisa proteger um hacker (Justin Long, um péééssimo sidekick para McClane, que aliás NÃO precisa de sidekicks...a química entre os dois não rende UMA piada decente em duas horas de filme. Pense nisso.) que pode ajudar os Estados Unidos - o feriado de 4 de julho está aí e um grupo terrorista cibernético atacou as redes de comunicação do país, gerando um colapso nacional nos sistemas do governo. A suposta devastação da Casa Branca e a reversão do dinheiro do seguro social de todos os trabalhadores do país para uma conta privada estão entre as muitas ameaças que McClane vai tentar impedir.

 Aliás, tentar não. Nesse filme infelizmente testemunhamos a transformação de John McClane numa entidade praticamente indestrutível, num super-homem que vocifera frases de efeito e não perde uma briga. Isso não é a essência do personagem, isso é uma paródia de todos os heróis de ação que Willis interpretou durante sua carreira. Devo dizer que o McClane real, aquele dos filmes anteriores, vulnerável e sempre com um plano absurdo, sempre comendo pelas beiradas, desacreditado pela polícia e pela família, não dá as caras aqui. Aliás, apenas no começo do filme vemos a interação dele com sua filha, Lucy Gennaro (Mary Elisabeth Winstead, linda e mal-aproveitada), e aí dá realmente a impressão de que vai ser um filme digno da série, mas em vão. Depois cai tudo na vala comum do filme de ação da semana. Um herói indestrutível, previsível, e um vilão também previsível e frouxo, inundados por um roteiro ruim e muito efeito especial. Timothy Olyphant faz o vilão Gabriel, talvez um dos vilões MENOS AMEAÇADORES da história recente dos filmes de ação. Muito, muito fraco.

 Mas o responsável por isso tudo é o 'diretor' Len Wiseman, um desses pau mandados de estúdio que simplesmente não conseguem fazer nada direito além de deixar tudo pra segunda unidade de cenas de ação. Desde o início de carreira, com a série Anjos Da Noite, Wiseman já mostrava sua inclinação: filme de ação/ficção derivativo e medíocre, copiando tudo o que já foi feito antes, e melhor. Aqui ele dirige com reverencia de fã, mas sempre à distância. Ao contrário da mão firme de John McTiernan, a impressão que esse Duro de Matar 4 passa é a de que Wiseman dirigiu o filme sentado no sofá em casa, enquanto assistia os filmes anteriores da série. Simplesmente não há direção aqui. O filme praticamente se conduz rumo à um final correto e anticlimático. Mais uma vez pergunto: será que não tinha um John Woo, um Phil Alden Robinson (que fez em 2004 A Soma de Todos os Medos, um filmaço com a pegada de John McTiernan) disponível não? Um diretor de ação de verdade?

  A verdade é que deu dinheiro, a crítica caiu no truque e gostou. Acho que o sucesso desse filme tem a ver com a própria percepção moderna do que é um filme de ação. Hoje em dia o que faz sucesso não são os heróis dos anos 80, e sim os heróis dos anos 80 se parodiando, como bem provou Stallone em Os Mercenários. Mas Willis tem mais talento que isso, a série merecia mais, e os estúdios nunca ganharam tanta grana sendo cínicos em relação ao seu público.

  Duro de Matar 4 desrespeita os fãs da série com um filme banal que perverte a essência da série. Que venha o quinto filme amanhã, ainda que os prognósticos vindos do exterior, onde já foi lançado, não sejam animadores. Será McClane uma relíquia que deveria ser abandonada na metade dos anos 90? Veremos.

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