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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

STAR WARS - O DESPERTAR DA FORÇA (EUA, 2015,122min., Dir. J.J.Abrams)

A grande ideia por trás de Star Wars e seu calcanhar de aquiles sempre foi justamente aquilo que faz qualquer fã babar e afasta muita gente contrária à série: é cinema mas é seriado, é episódico e tem ritmo de televisão, clima de matinê grandiosa com mocinhos, vilões e tudo que o escapismo embalado pelos melhores efeitos especiais pode proporcionar. 

George Lucas, o criador da coisa, é visionário, mas tem mão pesada, e a segunda trilogia iniciada em 1999 e finalizada há dez anos em 2005 provou que se o homem é um midas dos efeitos digitais, de alguma forma utilizar-se de três filmes para contar a história de Darth Vader, o vilão, foi uma decisão equivocada que se ao menos rendeu bons momentos principalmente ao final do terceiro filme, também terminou por anular a luz da série, o ponto de vista do herói e a imprevisibilidade das reviravoltas.

E é aí que "Star Wars - O Despertar da Força" acerta no alvo e empolga. Entra J.J. Abrams, o criador de dois dos seriados mais famosos dos últimos tempos: "Alias" e "Lost", ambos conhecidos por seus enredos mirabolantes. Em seguida emplacou uma carreira cinematográfica exemplar onde adaptou com êxito não uma, mas duas franquias baseadas em séries de TV dos anos 60: seu "Missão: Impossível 3" e  os"Star Trek 1 e 2" são exemplos de revitalização e adaptação para a tela grande de todos os maneirismos e esquemas utilizados em seriados de TV. Abrams sabe utilizar o poder da estrutura em um roteiro, sabe entregar personagens interessantes, frases de efeito, boas reviravoltas. Acima de tudo respeita as regras dessas séries e entende o apelo que cada uma tem de mais singular. Entrega isso ao fã ou ao espectador de ocasião sem cerimônia. Tem experiência na direção de atores e filma cenas de ação com efeitos especiais habilmente, sem complicar.

E o acerto na escolha do diretor reflete um filme de aventura coeso e emocionante, despreocupado em reinventar a roda; consciente da herança deixada pela trilogia original e resgatando uma alegria de cinema mais crua, algo em falta nos blockbusters atuais. Abrams e seu colaborador no roteiro Lawrence Kasdan mantém a história muito simples: após o desfecho de "O Retorno de Jedi", Luke Skywalker desaparece. E enquanto as forças do Império e Rebeldes se reorganizam, uma batelada de novos personagens se unem aos clássicos e partem em busca do Mestre Jedi supremo. Um ponto de partida que poderia dar errado, não fossem os novos personagens tão carismáticos ( Rey, uma heroína fabulosa que confirma de 2015 em diante o feminismo ditando papéis empolgantes e decisivos no cinema de ação moderno; Finn, um Stormtrooper que se volta para o lado dos heróis, e Poe Dameron, exímio piloto da resistência. O vilão, Kylo Ren, também surge com conflitos interessantes) e os velhos conhecidos tão bem dirigidos e com papéis fundamentais na trama. Harrison Ford, notadamente espetacular em cena recuperando com garra os trejeitos do anti-herói Han Solo, surge como destaque entre veteranos como Carrie Fisher, Anthony Daniels, Peter Mayhew e...vocês sabem quem, não vou dizer.

Particularmente não me considero um fã doente da série, mas sempre acompanhei com razoável empolgação e prazer esse desejo de cinema e aventura à moda antiga da trilogia original, que evoca tanto filmes de samurai quanto westerns.  A segunda trilogia dirigida por Lucas me fez perder muito o interesse por esse universo, admito. Mas esse é o filme certo, na hora certa, que pode reacender o ânimo dos já iniciados como eu e com certeza vai atrair o interesse de um novo séquito de neófitos prontos para os próximos filmes. É certo que "O Despertar da Força" é o melhor filme da série em mais de trinta anos. Se os criadores souberem manter todos os elementos clássicos e atraírem novos cineastas para injetar novas idéias ao jogo, acho que uma nova era de ouro para a saga espacial criada por Lucas se aproxima. Dedos cruzados, porque o diretor do próximo episódio marcado para 2017 é Rian Johnson, cineasta novato criador da pequena obra-prima "Looper", baita fita de ficção científica. 

Todo mundo pode dormir sossegado agora. Meus caros, com prazer declaro que Star Wars abandona sua sina de comercial para venda de brinquedos e merchandising e recupera com louvor sua posição no centro de um cinema fantástico de qualidade, inventivo e bem-intencionado. Já não era sem tempo.        

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