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sábado, 6 de agosto de 2011

Super 8 (Super 8, EUA, 2011, 103 min.)

  Há tempos um filme tão bom não honrava o título de clássico-das-matinês-de-sábado; e meus amigos, essa pequena gema chamada Super 8 é fabuloso, a melhor obra de Spielberg que Spielberg não fez. Produto da mente fértil de J.J.Abrams, o novo midas da tv e do cinema que até aqui ainda não fez um singelo filme ruim ( a saber: seu curriculo inclui a criação das séries Alias, Fringe, Lost e a direção dos filmes Missão Impossível 3 e o reboot de Star Trek em 2009), Super 8 é uma declaração de amor ao cinema pop dos anos 80, notadamente obras como Os Goonies, Conta Comigo e Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Ao mesmo tempo, Abrams mantém o seu estilo narrativo intacto, e mais uma vez constrói um filme que vai lentamente jogando informações que de início parecem desconexas, mas logo montam um quebra-cabeça espetacular, nos conduzindo a um clímax surpreendente.

 O que faz a diferença em Super 8 é acompanharmos a história de um alienígena ameaçando um pequeno condado pelos olhos de um grupo de crianças. Assim como em outra produção com seu dedo, Cloverfield, Abrams traz o foco para as pessoas e relações humanas que aparentemente passam despercebidas em outras produções do gênero. É uma grande lição até mesmo para seu produtor Spielberg, que em Guerra dos Mundos tentou conciliar destruição em massa e relações familiares, mas parece ter perdido a mão para equilibrar as duas coisas e entregou um filme irregular. Abrams é expert em roteiro para a tv, e sabe muito bem que não basta um grande orçamento e cenas de ação para capturar a atenção da audiência: a trama tem de se desenvolver com agilidade, os personagens devem ser interessantes, e os diálogos tem que ser obrigatoriamente bons.

 E isso Super 8 entrega, com sobras. Conta a história de Joe Lamb (o estreante Joel Courtney), garoto que vive em um pequeno condado e acaba de passar por uma tragédia familiar: sua mãe morreu num terrível acidente, enquanto sua relação com o pai vai lentamente esmorecendo. Paralelemente, a grande diversão do menino é, junto com seus amigos, filmar uma fita de zumbi, com uma câmera Super 8. As reuniões para a filmagem são divertidíssimas, e respondem pelo coração do filme. Até que numa noite, filmando uma cena, um trem passando por perto das filmagens descarrilha e causa um enorme acidente (filmado com um senso de espetáculo insuspeito por Abrams, lembrando o desastre de avião da abertura de Lost), desencadeando a fuga de um monstro encarcerado em um dos containers carregados pelo trem. Os militares não demoram à chegar, e logo os pequenos cineastas percebem que filmaram muito mais que um filme amador.

 É incrível observar a quantidade de metáforas que Super 8 oferece numa primeira sessão. A mais óbvia, é a do filme dentro do filme rodado pelos garotos: é como se Abrams admitisse que ele mesmo, de primeira, é uma criança fascinada pela descoberta de um enquadramento, de uma paisagem satisfatória para filmar, ou até uma atuação realmente boa. Esse retorno à uma visão infantil que é a quintessência do cinema Spielbergueriano está lá em cada frame do filme.

 Outra idéia sempre presente no cânone do cinema fantástico é a do alienígena que traz a dissolução do ambiente humano, mas ao mesmo tempo se torna o responsável pela união de diferentes núcleos da trama. É como se um desconhecido pudesse chamar em nós o nosso melhor, o poder de unir, de superar diferenças e agirmos em unidade, ignorando o passado de cada pessoa. Esse tema também está presente em Super 8, e é desenvolvido de maneira soberba: há tempos um grupo de crianças não soa tão natural, tão alegre no espírito de molecagem e vivência. É infância de verdade, retratada com naturalidade.

 Mas isso já é aprofundar demais a análise. O que importa mesmo é que Super 8 é um filme-pipoca perfeito, daqueles que hoje já não fazem mais. Um filme onde o senso de aventura prevalece sobre a ação em si. Ao final desse filme fiquei pensando o que J.J.Abrams faria com um filme de super-herói...acho que seria fabuloso, um estrago. Se bem que enquanto sua mente iluminada continuar criando gemas pop como essa, nós do lado de cá não podemos pedir muito. O trabalho do homem é surpreender, criar conceitos originais ao mesmo tempo em que honra o passado do cinema popular e seus grandes criadores. Super 8 é mais um passo acertado para no futuro Abrams se tornar referência para novos realizadores.

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