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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Biutiful ( Biutiful, ESP, 2010, 143 min.)

Alejandro González Iñárritu é um dos melhores diretores de cinema da atualidade. Pode até ser exagero, eu sei, mas tem uma coisa nos filmes dele que chama a atenção: ele leva muito à sério o que faz. Ele não é cínico, não é leviano em relação ao ofício ou aos temas que aborda e para mim, isso é interessante. Desde Amores Perros, passando por 21 Gramas e Babel, eu percebo que o grande tema do cara é: gente. Isso mesmo, pessoas como eu e você. E eu ia guardar isso pra depois, mas já vou entregar agora: ninguém filma o acaso, o momento extraordinário no meio do caos como ele. Iñárritu é nascido no México, mas seus filmes não tem nada de dramalhão. Pelo contrário, o drama de Iñárritu é hardcore mesmo. Ele sabe as barras que as passoas comuns costumam passar, e consegue traduzir isso em filme de uma maneira maravilhosa. Suas narrativas fragmentadas não são mero artifício estilístico. É que a vida é realmente fragmentada! Quantas vezes começamos a conversar com uma pessoa, e o telefone toca, alguém toca a campainha, você precisa sair correndo, a gasolina do carro acaba no meio do caminho, falta água na sua casa, alguém inesperado chega em visita...as bifurcações são intermináveis, e sabemos bem que nosso dia-a-dia não é um episódio de sitcom, mas sim um épico monumental, o maior épico de todos, que dura muitos, muitos anos: o épico da SUA vida. Tem coisa mais importante, mais íntima que isso?

 Todo esse preâmbulo é uma tentativa falha de descrever o que eu sinto assistindo um filme monumental como esse Biutiful, a nova pedrada do diretor. A história , vista de soslaio, pode parecer banal: Uxbal, um homem com dom mediúnico, tenta criar seus dois filhos e se relacionar com a ex-mulher ao saber que tem câncer. Ao mesmo tempo sobrevive de bicos no submundo de Barcelona, trabalhando para a máfia chinesa.

 Pronto. Não é muito animador, certo? Mas tente olhar com um pouco mais de atenção. Mais perto. Mais um pouco. Preste atenção nos detalhes, nos olhares, naquilo que a câmera parece captar como que por acidente. Iñárritu e Javier Bardem, na atuação definitiva de sua carreira, nos convidam não apenas a assistir com distanciamento. Eles querem é que você sinta o que os persongaens estão sentindo: amor, ódio, decepção, ansiedade, medo, revolta. Você tem que entrar no olho do furacão, um carro de corrida á 300km/h, sem cinto de segurança, sem freios.

 O resultado disso é que eu saí do cinema, e agora revendo em dvd, destruído, arrasado. É esse tipo de sensação que eu quero de um cineasta hoje em dia. Perdoem o meu francês, mas puta merda, será que o mundo precisa mesmo de mais uma comédiazinha romântica canalha com a Julia Roberts? Como o cinema anda desonesto hoje em dia, como tudo está virando fórmula, estatística, filme de brinquedo...desculpem, estou me perdendo aqui. O que me espanta é a frieza de Iñárritu em colocar um espelho em nossa frente e mostrar todas as nossas facetas, da mais cruel à mais altruísta, mesmo que involuntária. Na tragédia é que a gente se une? Eu não sei, mas me dá gosto de ver uma dramaturgia que honra mais o legado de Plínio Marcos do que Dan Brown, e isso é um alívio.

 Em tempo: O 'Biutiful', escrito assim, com a grafia errada, se refere à beleza meio torta que a vida possui. O valor e a observação de que há beleza até nos erros. Isso está bem claro no filme: ao mesmo tempo em que Uxbal está deixando este mundo feio,cheio de dúvidas e incertezas, ainda existe a beleza a ser admirada nos olhos de uma criança, na beleza torta de sua mulher, numa revoada de passáros fenomenal que ocorre bem quando Uxbal recebe pelo celular uma péssima notícia.

Esse paradoxo reflete a qualidade do filme: existe a vida perfeita? Esse ideal americano que leva as pessoas à loucura num vale-tudo materialista para ver quem pode mais? Ou vale mais uma vida modesta, cheia de problemas, mas espiritualmente completa? Obrigado, Iñárritu, por me dar o benefício da dúvida. Você fez um filme 'Biutiful'.

Um comentário:

  1. ôpa!!!... de fato o filme é lindo, mas em relação ao câncer da personagem é relativo, ou ambos...pois fica muito nítido que as pessoas em sua volta(Uxbal) é o pior câncer existente (crazymannnn...). Iñarritú, passa, se é que pode se dizer assim, muito bem a parte da dualidade, causa e consequencia,o que as pessoas deturparam a essência da bondade achando que o sacrifício sem tirar o argueiro do próprio olho e estar fazendo algo para humanidade para benefício próprio,..., ou seja ninguém está preparado para práticar a bondade plena se não for a base de troca, adorei seu blog //acho que fiz algo errado*// Creio que para pessoas com um olhar crítico perceberá a dualidade no título, compreenderá melhor depois que assistí-lo...
    De fato amei esse blog,já deu prá perceber que não é o Gaarciaa.
    Elis.

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