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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Grandes Atores Vivos: Ricardo Darín

  Hoje esse blog presta homenagem a um dos maiores atores em atividade no mundo inteiro: Ricardo Darín.
Veterano de séries televisivas e de teatro no seu país natal, Argentina, Darín chamou a minha atenção no clássico Nove Rainhas, filme de 2000 que contava a saga de dois golpistas numa Buenos Aires que sofria diretamente os efeitos de uma grande crise econômica na virada do milênio. Lembro que assisti várias vezes, hipnotizado pelo ritmo, o roteiro afiado, as reviravoltas sensacionais; e principalmente me chamou a atenção o protagonista. Para nós, latino-americanos, Darín é a representação em celulóide daquilo que os americanos chamam de 'Blue Collar Guy' : o sujeito comum, da classe trabalhadora, que traduz no seu semblante e nos maneirismos o homem médio, que tem como objetivo viver com dignidade, sem nenhuma outra pretensão que seja.

 Na verdade a história de sucesso do cinema argentino no Brasil se confunde com a filmografia de Ricardo Darín: os grandes sucessos portenhos aclamados por crítica e público aqui são filmes em sua maioria protagonizados pelo ator. Quando trabalhava em videolocadora, lembro bem da empatia que as pessoas nutriam por seu nome. Darín se tornou sinônimo de qualidade, de cinema humano e bem-feito, preocupado em contar boas histórias. O Filho da Noiva, sucesso de 2003 dirigido por Juan José Campanella, foi recordista de público graças à uma premissa simples e imensamente sensível: contava a história de Rafael, quarentão em crise de meia-idade proprietário de um restaurante em Buenos Aires e responsável por seus pais já idosos. Ao mesmo tempo, tentava consertar sua vida amorosa, sempre em frangalhos. É uma fita sincera, dirigida com simplicidade por Campanella. Marca também a parceria cômica de Darín com seu velho parceiro de teatro Eduardo Blanco, ator excepcional que rodou em 2004 o igualmente bom Conversando Com Mamãe. De qualquer forma, seja no circuito de arte nos cinemas ou nas prateleiras das videolocadoras, O Filho da Noiva é indicação certa para aqueles que apreciam bom cinema.

 Vale a pena destacar as partcipações de Darín nos filmes XXY e Kamchatka, que fizeram grande sucesso nos circuitos alternativos e estão disponíveis para locação. Em 2004, reuniu-se novamente com Campanella no filme O Clube da Lua, mais uma vez coadjuvado por Eduardo Blanco na história sobre um centro comunitário prestes à desaparecer graças a cobiça e avareza de políticos locais. É um ótimo filme sobre ativismo, memória afetiva e os laços afetivos que nos acompanham desde a infãncia.

 Mas nada poderia preparar o mundo para o terceiro petardo da parceria Darín/Campanella: O Segredo dos Seus Olhos. Por falta de mais palavras, um filme perfeito. Uma mistura de suspense, drama e romance que rendeu o Oscar de Filme Estrangeiro a uma obra que nunca nos cansa de surpreender. É a crônica de um assassinato não-resolvido, de um amor não-realizado. É a história de Esposito, ex-funcionário público que ao se aposentar, decide escrever um livro sobre um assassinato ocorrido nos anos 70, nunca desvendado. Esse é apenas o início da montanha-russa de emoções que nos aguardam nesse que é, sem dúvida, o ponto alto da filmografia de todos os envolvidos nesse filme atemporal.

 Em 2010, Darín acertou novamente em Abutres, fantástico drama policial sobre um agente de seguros completamente amoral que forja acidentes com o consentimento de suas vítimas para conseguir dinheiro fácil, extorquido das seguradoras. Se apaixona por uma médica de ambulância que está na cena de um desses acidentes provocados por ele mesmo. É uma virada radical na carreira de Darín. Aqui ele compõe um sujeito mesquinho, solitário. Mas confere ao personagem uma humanidade excepcional. Sua parceira em cena é a excepcional Martina Gusman, de Leonera, dirigido por Pablo Trapero, grande diretor que também assina a direção e roteiro de Abutres. Um filme violento, desconcertante.

 O que nos leva à Um Conto Chinês, novo filme de Darín dirigido e roteirizado por Sebastián Borensztein. É um drama com toques cômicos excepcionais, cortesia de um roteiro fabuloso que fala sobre as chances que o destino nos dá e muitas vezes deixamos passar. Unindo a humanidade e a obsessão de Darín em construir um personagem que cativa pelo ativismo social, e um ar de coincidências absurdas que nos remete à Magnólia e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, é com certeza um filme comercial que fará grande carreira nos cinemas e locadoras em todo o Brasil. Comento a obra em detalhes quando chegar ao Brasil, pois considero trapaça detalhar aqui um filme tão bom sabendo que o mesmo está, por enquanto, apenas disponível nos torrents da vida. É até uma outra discussão, mas fica aqui a ressalva: porque filmes tão bons que estão em cartaz num país bem ao lado, demoram tanto para chegar comercialmente no Brasil?
Será que só os blockbusters da vida merecem lançamentos simultâneos? Pensem: Darín já é muito conhecido no Brasil. Seus filmes precisam de distribuidores melhores, lançamentos mais rápidos, para que uma platéia cada vez maior possa apreciá-los.

 Enfim. Meu propósito hoje foi trazer aos leitores desse blog o conhecimento do trabalho fenomenal deste ator, que escolhe muito bem seus projetos e faz um cinema honesto, adulto e imensamente abrangente. Ricardo Darín é um dos vários responsáveis pelo mundo por trazer de volta a qualidade ao cinema popular. Vamos deixar essa rivalidade besta com nossos hermanos de lado e dar a mão à palmatória: Bravo, Darín!

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