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domingo, 19 de junho de 2011

Cedar Rapids (Cedar Rapids, EUA, 2011, 86 min.)

Constatação: Ed Helms é astro, um dos melhores nomes da comédia americana recente. Seja no estrondoso sucesso da série Se Beber, Não Case, em que faz o dentista ingênuo Stu, ou no seriado The Office, em que entrega toda semana gags hilárias na pele do genial Andy Bernard, Helms é mestre em retratar o americano médio comum, meio nerd, quase Forrest Gump, mas com uma alegria e uma energia que evoca a inocência dos filmes de Capra. Mas o fato é que Helms ainda precisava fazer "o" filme, aquele em que todas essas qualidades estariam à serviço de um bom roteiro e uma direção esperta o suficiente para fazê-lo brilhar ao lado de outros ótimos atores subestimados.

 E felizmente, esse filme é Cedar Rapids. Uma dramédia na melhor tradição Alexander Payne/Jim Taylor, destruindo mitos da seriedade e do bom-mocismo americanos ao mesmo tempo em que mostra um homem  inocente, vivendo uma vida tediosa prestes a passar por grandes reviravoltas éticas. Tim Lippe (Helms), é um corretor de seguros que tem um vida muito, muito pequena em Brown Valley, Wisconsin. Seu dia-a-dia consiste em atender seus fiéis clientes e agradar seu patrão Bill Krogstad (Stephen Root), que vê em Lippe o futuro da pequena empresa. Lippe ainda mantém um caso amoroso com sua antiga professora do colegial (!), vivida pela grande Sigourney Weaver, aqui em participação especial. Ao mesmo tempo que leva uma vida medíocre, Lippe tem um misto de inocência e melancolia que apenas as pessoas destinadas ao nada possuem.

 Mas as coisas mudam, e Lippe é enviado pelo seu patrão à Cedar Rapids, cidadezinha em Iowa onde ocorrerá uma convenção de corretores de seguros. Quase uma criança rumo a um mundo perigoso, Lippe leva toda a sua inexperiência à Cedar Rapids, faz amigos, descobre uma coisa ou duas sobre o amor, sobre os negócios e se mete em imensas roubadas. Falado assim, parece com um milhão de outros filmes, mas não é. Cedar Rapids tem personagens muito interessantes, e um olhar incomum sobre os 'losers' do sonho americano. Exemplo: O mestre John C.Reilly (ator favorito do diretor PT Anderson) interpreta Dean Ziegler, um corretor de seguros boca-suja, inconveniente, bêbado e...sincero. Ziegler se torna amigo de Lippe e como nas grandes amizades do cinema, dois caras tão opostos formam uma dupla genial. Ziegler é execrado por todos como um amoral, sujeito porcão e obsceno, mas existe uma simpatia no personagem defendido com bravura por Reilly que fica impossível não gostar toda vez que ele aparece em cena, falando absurdos e honrando o legado cômico de John Belushi. Grande momento de John C.Reilly. Joan (Anne Heche) e Ronald (Isaiah Whitlock) também são amizades que Lippe faz em Cedar Rapids, ambos completando um mosaico humano que completa essa jornada de Lippe, rumo a uma consciência maior da vida que o cerca e de como ficamos refém das amarras que impomos a nós mesmos sem perceber. A prostituta que Lippe conhece logo ao chegar na cidade é o maior exemplo disso: ao mesmo tempo em que Lippe não a reconhece como tal, tratando-a com doçura e lhe oferecendo um caramelo, a garota fica estupefata ao ver um homem que não a trata da maneira que está acostumada, e isso é o ponto central do filme: a imagem que as pessoas fazem de nós muitas vezes é bem diferente daquela que pensamos que projetamos.

Cedar Rapids é um filme sobre amadurecimento, auto-conhecimento e sobre viver sem julgar as pessoas. Em alguns momentos parece que vai descambar para uma comédia cínica, que vai apontar culpados, mas não. O mundo pode estar indo pelo ralo, e em nossa vida encontramos pessoas de todos os tipos. Mas é o que VOCÊ faz da SUA vida que importa no fim das contas. Tim Lippe, com seus olhos de criança sobre um mundo corrompido, viu isso e fez sua escolha. Talvez funcione. Grande filme.

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