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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Namorados Para Sempre ( Blue Valentine, EUA, 2010, 107 min.)

Que filme cheio de verdade esse Blue Valentine. Me recuso á chamá-lo pelo título nacional porque (A) não traduz o verdadeiro conteúdo da obra e (B) é apenas uma manobra comercial da distribuidora para faturar em cima de casais desavisados pensando se tratar de uma comédia romântica nos moldes de Sandra Bullock e congêneres. Esse provavelmente é o filme mais cruel e honesto que assisti nos últimos anos. É também uma belíssima crônica de um relacionamento fadado a destruição. Dirigido pelo documentarista Derek Cianfrance, Blue Valentine é o filme americano mais ousado dos últimos anos. Poucas vezes vi um diretor e um casal de atores demonstrar tamanha entrega na composição dos seus personagens. Ryan Gosling já havia me impressionado no extraordinário Half Nelson em 2006, e Michelle Williams é uma atriz capaz de abarcar várias oitavas num gesto, num olhar. A química entre os dois é natural. A palavra aqui é naturalismo. Chega a lembrar filmes de Truffaut, Cassavetes principalmente. Uma câmera que parece estar sempre em busca do acaso espetacular, 'aquele' momento essencial para o cinema. Fotografia deslumbrante de Andrij Parekh.

Somos levados a testemunhar a trajetória amorosa completa de Dean (Gosling) e Cyntia (Williams). Não há muito o que dizer, a não ser que é um filme destinado a atingir o coração de qualquer pessoa que já se envolveu num relacionamento que não deu certo. É complicado dizer isso, mas é um filme que me deixou vulnerável, esculhambou mesmo. Hoje, sexta-feira, vai ser exibido no Cine Lupo, e sinceramente não sei se consigo encarar de novo. A coragem com a qual o diretor e sua equipe de roteiristas expressa a idéia de amor e desilusão é tão intensa que me assustou. Não é um filme fácil. Ao mesmo tempo, transborda humanidade. Não faz vilões. Não aponta culpados. É um elogio ao que nos faz humanos e ao mesmo tempo tão falhos. Uma fábula sobre os desvios da alma, sobre o que duas pessoas apaixonadas são capazes de fazer. Para o bem e para o mal.

 Recomendo com todas as minhas forças essa pequena obra-prima, para aqueles que ainda se perguntam como conseguem manter um relacionamento à dois. Ou os que conseguiram estragar uma coisa perfeita. Tem também os que estão no céu azul da relação amorosa, e vivem se perguntando quando o caldo irá entornar. Não importa. Blue Valentine prova que nunca há paz. Existem sim, alguns momentos de bonança, mas o resto, folks, é tempestade. Alguns se seguram e aguentam, outros caem no mar e se afogam. O melhor filme em cartaz, que não tenho coragem de ver novamente.

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