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quarta-feira, 22 de junho de 2011

O Exterminador do Futuro 2 (Terminator 2 - Judgment Day, EUA, 1991, 135 min.)

  Tem dias que a gente sente a nossa bateria descarregar. De repente, nada mais parece te empolgar igual quando você era um moleque. Hoje foi um dia assim. Por mais que eu assista um filme novo, eu sei que nada vai me agradar, nenhum filme ou música ou livro ou seja lá o que for vai me dar aquela sensação de euforia, de estar testemunhando um momento único da cultura popular. Hoje em dia a idéia de 'Filme-Evento' é tão calculada que antes do filme estrear no cinema dias antes a gente já sabe quase tudo sobre a obra. Uma banda tocando ao vivo hoje em dia no Brasil já não tem mais novidade: meses antes, de ingresso já comprado, fuçamos toda a internet para saber o setlist que vai ser tocado. Assistimos vídeos no YouTube. Basta o dia chegar e pronto, a apresentação é exatamente a mesma que já estamos mastigando há muito tempo.

 Eu sei que é rabugice minha, eu sei. O ponto aqui é: ninguém vai tirar a minha infância e adolescência, os momentos sensacionais de descoberta desse verdadeiro manancial de conhecimento que a cultura popular (nunca gostei de 'pop') pôde me proporcionar. Cara, eu nunca, NUNCA vou esquecer o dia em que meus pais me levaram no Cine Santana, lá na Voluntários da Pátria, para ver esse que não é um filme, mas um marco na minha vida chamado O Exterminador do Futuro 2. O cinema ficava numa galeria, e lembro que o frequentávamos assiduamente, aos domingos. Ali assisti clássicos dos Trapalhões, um filme em que o Tom Hanks era policial e tinha um cachorro que agora não me lembro o nome, muitos desenhos animados da Disney, Ghost - Do Outro Lado da Vida, As Tartarugas Ninja, Rei por Acaso (filme ruim de John Goodman que quando moleque eu gostava muito!)...a lista era grande.

Mas naquele domingo a atmosfera era outra. Lembro que fomos em uma sessão tipo sete da noite, e a fila estava imensa. Fomos comprar os ingressos e nunca esqueci quando vi uma pessoa sendo retirada da sala de exibição numa maca! Uma confusão imensa. Meu pai negociou minha entrada com a moça da bilheteria, pois eu ainda tinha onze anos e a censura do filme era 14. Para completar, tive a visão do primeiro móbile de papelão que avistara em minha vida: um sujeito gigante, todo vestido de couro preto, óculos escuros numa motocicleta. Empunhando uma espingarda calibre 12. E por baixo dos óculos, um olho vermelho ficava piscando...era mais do que um moleque de onze anos podia aguentar. Eu nem sabia o que esperar.

 E aí, meus amigos, foi mítico. Uma sala completamente lotada. Mais de quinhentas pessoas vibrando e gritando, aplaudindo nos momentos certos. As perseguições insanas, os momentos de emoção genuína, Schwarzenegger quando era o maior astro de cinema do planeta, disparando frases que se tornaram domínio popular...lembro que olhava para os meus pais em êxtase. Quando o T-1000 se desfez em metal líquido pela primeira vez, o cinema veio abaixo. Ninguém ali estava preparado para isso. Os finais múltiplos, em que o monstro de metal líquido pinta e borda, se recusando a morrer. O epílogo arrasador, aquela trilha sonora que era o próprio anúncio do apocalipse. E Guns'n'Roses, claro. Aquela canção arrebatadora, 'You Could be Mine'.

 Saí do cinema mudado, sério. Eu, de alguma forma, iria fazer parte daquilo. Enquanto meu pai dirigia pela Cruzeiro do Sul rumo ao apartamento no Bom Retiro, eu olhava fixamente no vidro de trás, esperando que a qualquer momento o T-1000 pudesse estar correndo atrás do nosso carro. Nos dias que seguiram, eu desenhei centenas de historinhas que envolviam as cenas que eu havia visto no filme. Estranhamente, comecei a assistir tudo o que passava na televisão relacionado a ação e ficção científica. Comprava os jornais e revistas para saber qual seria o próximo filme de Schwarzenegger. Gibis eu já consumia centenas por mês, enlouquecia meus pais. Todas as referências, o pacote Cinema-Rock-Quadrinhos. Mais um moleque com a mente lavada pelo Tio Sam, diriam os ufanistas.

 Meses depois, nos mudamos para Araraquara, e uma das primeiras coisas que perguntei era onde ficava o cinema. Passando pela fachada do grande e extinto Cine Veneza, lá estava: O Exterminador do Futuro 2 ainda estava em cartaz aqui. E aí o filme saiu em VHS. E, sinceramente, eu assisti mais de cem vezes, no mínimo, desde o seu lançamento. É como um vírus. Toda vez que está na tv, eu assisto. Se algum amigo cita o filme, me dá vontade de assistir. Num dia como hoje, passados exatos 20 anos do seu lançamento, eu me pego assistindo e emocionado como sempre.

Tanta coisa mudou. Meus pais se separaram, Schwarzenegger virou governador, abandonou a carreira cinematográfica e agora se enrolou num caso extra-conjugal bizarro. Seus filmes não foram mais os mesmos. O Exterminador do Futuro ganhou duas sequências que nunca me empolgaram o bastante. James Cameron se tornou o rei deste e de outros mundos. Ed Furlong se afundou nas drogas e Robert Patrick até participou de Arquivo X! Linda Hamilton eu nem sei mais que fim levou. Minhas certezas se dissiparam ao longo do tempo, mas não posso ser mal agradecido. Em vinte anos, aprendi muitas coisas, conheci pessoas incríveis com quem posso compartilhar minhas paixões e gosto da vida que levo. Me considero afortunado por ter conhecido e visto tantas coisas bacanas. São elas que compensam os momentos ruins, barra-pesada mesmo.

 Mas é inevitável. A nostalgia é um traço da minha personalidade, e quando eu fico assim, meio melancólico, me perguntando onde diabos que minha paixão foi parar, eu assisto O Exterminador do Futuro 2. E aí tudo volta ao seu lugar, o mundo volta a fazer sentido. Eu me emociono, agradeço meus pais por me levarem para ver a obra que, no fim das contas, é a responsável pelo início do meu amor pelos filmes. E posso seguir em frente mais esperançoso, sabendo que algumas tempestades virão, mas que não posso sair da estrada.

 Sabe que é isso mesmo? O Exterminador do Futuro 2 é um filme sobre esperança, sobre fazer seu próprio destino, mesmo sabendo que todas as possibilidades estão contra você.

 Quando revejo esse filme aquele garoto de onze anos que estava embasbacado ao sair do cinema em 1991 sempre me lembra disso: "Ei, sempre há esperança! Vale a pena lutar!"

 É que as vezes o trintão aqui esquece. Obrigado Bruno, por me lembrar.

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