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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Bravura Indômita (True Grit, EUA, 2010, 105 min.)

  Bravura Indômita é o remake do filme de 1969 com John Wayne e é dirigido pelos Irmãos Coen. E que prazer é assistir um filme desses diretores. Assim como Tarantino, Soderbergh e Fincher, os irmãos são daquela linhagem rara que fazem filmes com apelo comercial, mas sempre com conteúdo farto para discussões após a sessão. Mesmo sendo um remake, Bravura Indômita tem personalidade de sobra. É cinema clássico: bem executado e preocupado em usar uma história como ponto de partida para observação de costumes e comportamento humano.

É curioso como esse filme cresce absurdamente em revisão. Eu tinha visto no início do ano, no cinema, duas vezes, e já gostava muito dele. Ontem por alguma razão que me escapa captei leituras e idéias que me passaram despercebido nas primeiras vezes. O cinema dos irmãos é muito detalhado, demanda atenção, repetidas sessões...mas é extremamente gratificante. Nunca é chato, pelo contrário. Assim como faz Tarantino, os irmãos Coen devolvem a qualidade ao cinema de gênero,(aqui, no caso, o faroeste) e o fazem com absoluto domínio do ofício.

O filme conta a história de Mattie Ross (a estreante Hailie Steinfeld, roubando todas as cenas em que aparece),garota de 14 anos que busca vingar a morte de seu pai pelas mãos de Tom Chaney (Josh Brolin). A jovem garota contrata então um pistoleiro aposentado bêbado e errante: Reuben "Rooster" Cogburn (Jeff Bridges, espetacular) e ambos, acompanhados pelo Ranger Texano LaBeouf (Matt Damon), partem em busca de Chaney e seu bando.

A fotografia magnífica de Roger Deakins procura desmistificar o Velho Oeste, mostrando uma paleta de cores surrada, mas de extrema beleza. É a tradução perfeita da aridez, da secura. A trilha sonora de Carter Burwell, colaborador antigo dos irmãos, também tem poucos arroubos épicos. É discreta, melancólica, quase um epitáfio. E a edição dá um ritmo perfeito para o filme, cortesia dos irmãos sob o velho pseudônimo Roderick Jaynes.

 Todo esse aparato técnico é a ferramenta perfeita para os irmãos Coen deitarem e rolarem em sua subversão dos códigos e ícones do western: Logo nas cenas iniciais, quando uma locomotiva chega à cidade trazendo Mattie para reconhecer o corpo do seu pai, não vemos um plano heróico da máquina, como nos filmes de Ford e Leone; os Coen filmam a locomotiva de costas, chegando ao fim da estrada de ferro, uma maneira sutil de mostrar o metafórico 'fim da linha'. Todos os planos do filme contrariam a teoria de filmagem em que o 'herói' do filme, no caso Rooster Cogburn, teria de ser filmado de baixo para cima, ressaltando seu aspecto heróico. Cogburn é o anti-herói, e os irmãos fazem questão de demonstrar isso filmando-o sem reverencia, pois a verdadeira bravura do filme reside na jovem Mattie.

 Mattie é a garota no desabrochar da adolescência, dividida, após a perda do pai, entre dois ideais de masculinidade: o bruto, sujo e honrado, porém irracional, Cogburn e LaBeouf, que representa o ideal de homem racional e domado pelas convenções. É fácil perceber a quem o filme (e por consequencia, a jovem Mattie) faz o maior elogio: na apresentação de Cogburn, o vemos num tribunal dando um depoimento onde narra como matou três irmãos corsários sem pestanejar. Defende seu ideal, mesmo que torto, com uma firmeza inabalável. Já no primeiro diálogo com LaBeouf, Mattie o confunde com um palhaço de rodeio, o que dá a idéia do fascinante relacionamento entre esses três personagens tão bem desenvolvidos pelos irmãos Coen.

São em leituras como essa que percebemos a genialidade de determinados autores. Ao mesmo tempo em que fazem um faroeste perfeitamente palatável para o público que pretende apenas ver um filme popular de entretenimento, os irmãos Coen fazem também um incrível estudo sobre a força de uma mulher numa época em que esta era relegada ao segundo plano; ousam transformá-la em heroína e ainda fazem uma crônica sobre a decadência do herói em pleno 2011. Se isso não é ser subversivo, eu não sei mais o que é!  

2 comentários:

  1. Legal Bruno...
    gostei do site e da crítica...
    Eu também gostei muito do filme e concordo em tudo com você... mas não vi 3 vezes e mesmo que visse não iria reparar e comparar a forma como filmaram a locomotiva .... então seus comentários são muito bem vindos... só tem a acrescentar e trazer um novo olhar ao assistirmos filmes...
    continue postando sempre e avise...
    abraços,
    Shanti

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  2. Obrigado Shanti!

    Pode ser loucura minha, mas alguns filmes melhoram muito lá pela terceira, quarta revisão...outros pioram bastante! rs

    abraço! comente e dê sugestões sempre!

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