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quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Homem ao Lado ( El Hombre De Al Lado, ARG, 2009, 100 min.)

De viagem relâmpago à São Paulo, passei um frio do cão e assisti esse filme argentino que chega por aqui tardiamente e confirma nossos hermanos como donos de um cinema cheio de estilo e principalmente com histórias capazes de engajar a platéia. Dava para ouvir uma agulha caindo na sessão do Reserva Cultural domingo à noite. Prova de que histórias simples e com forte componente humanista sempre encontram seu público. Gosto muito do cinema argentino e esse é mais um na lista de filmes fenomenais que se iniciaram lá nos anos 70, com A História Oficial, passando por filmaços como Nove Rainhas e o recente O Segredo dos Seus Olhos.

 O Homem ao Lado conta a história de Leonardo (Rafael Sprelgeburd), arquiteto que vive confortavelmente com a esposa e filha  em uma casa exuberante, a  única construída pelo célebre arquiteto francês Le Corbusier na América Latina. Leonardo vive exclusivamente da aparência do seu sucesso, coisa que o filme e suas composições certeiras fazem questão de demonstrar. Trabalho de fôlego da dupla de diretores Mariano Cohn e Gastón Duprat.

 Mas eis que um vizinho começa a abrir uma janela que dá direto para a casa de Leonardo. Esse homem, Victor (atuação espetacular de Daniel Araoz), é o oposto de Leonardo: machão, tosco, rude e também com o tipo de afabilidade que a classe social de Leonardo não conhece...Victor é um homem de verdade, sem rodeios. E não demora para Leonardo se revelar um personagem desagradável, um verdadeiro banana em suas tentativas para demover o vizinho da idéia de concretizar a famigerada janela.

  Esse é conflito que alimenta o filme. Aparentemente simples, mas que dá margens a muitas leituras, todas elas muito bem exploradas pelos diretores. A idéia da janela aberta por uma classe social menos abastada bem no quintal dos ricos é muito boa. Ao mesmo tempo em que se revela pouco sobre Victor justamente para se brincar com a nossa expectativa, cada cena envolvendo Leonardo o retrata como um homem triste, refém da própria riqueza conquistada. Refém de hábitos desnecessários e de pessoas que o tornaram, por assim dizer, não um homem humanizado, mas um homem soft. Um cara que apesar do conhecimento que possui, dos lugares que viu, da vida que vive é um sujeito que não sabe conversar de maneira racional com o próximo. Não consegue expor o seu raciocínio de maneira inteligível e, portanto, está condenado a ser um fracassado existencial. As poucas tentativas do personagem em se estabelecer como um homem racional na sua vida  mostram o quão patético ele é.

 E enquanto isso Victor vai vivendo sua vida, à sua maneira truculenta mas ao mesmo tempo inegavelmente simpático. Nada o abala em sua trajetória rumo a uma vida verdadeira, mas O Homem Do Lado reserva a esses dois arquétipos tão comuns em nossa vida moderna um destino absolutamente inesperado.

Sem tomar partido de qualquer um dos lados (e é isso que o filme é, uma astuta análise de classes), é sempre gratificante testemunhar um cinema tão rico em soluções humanas que faz a gente ficar pensando sobre a maneira como tratamos o nosso semelhante. O Homem ao Lado é um filme imperdível sobre comunicação...ou a falta dela.

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